“Final de semana”, “sol” e “Curitiba” não são palavras vistas na mesma oração com frequência. No entanto, quando aparecem juntas vêm acompanhadas do vocábulo “parque”. Todos os curitibanos encaminham-se para os parques, fazendo com que haja um verdadeiro congestionamento de carros, corredores, ciclistas, caminhantes nas pistas de asfalto. Curiosamente, é nessa concentração de pessoas que os parques deixam de ser públicos. Transformam-se em espaços privados daqueles que os utilizam. É a apropriação do espaço público sem levar em consideração o próximo. E essa privatização é reforçada pela ausência do poder de polícia, que deveria ser exercida por agentes municipais.
A começar pelos caminhos que levam ao principal parque de Curitiba, o Parque Barigui. Existem duas rotas para se chegar ao parque: ou pela Av. Mario Tourinho ou pela Av. Candido Hartmann. A Av. Mario Tourinho possui, antes de chegar ao terminal do Campina do Siqueira, calçadas e ciclovias estreitas e irregulares, sem privilegiar os pedestres ou ciclistas. Há postes no meio da ciclovia e da calçada; várias esquinas não possuem guias rebaixadas; o calçamento é irregular. A situação é pior na Av. Cândido Hartmann. Calçadas em estado precário e ausência de ciclovia. Assim, o meio de transporte mais seguro e confortável para se chegar ao parque é o carro, algo eminentemente privado.
Em dias cheios, o estacionamento do parque vira terra de ninguém, assim como as ruas adjacentes. A faixa de proibição de estacionamento, existente em todo lado direito da Rua Aloísio França, é ignorada. O gramado em frente às residências vira o local preferido para parar os caros. Não se vê um carro da DIRETRAN ordenando o trânsito no parque e fiscalizando o estacionamento.
E com a desordem dos carros, vem o caos nas pistas e trilhas. Há uma série de placas proibindo veículos motorizados nos caminhos de corrida e bicicleta. Pois então. Final de semana de sol é quando os curitibanos desfilam com seus patinetes motorizados pelo parque ou levam os seus filhos passearem com aquelas motonetas elétricas, fazendo zigue-zague em local em que só deveria haver caminhantes, corredores e ciclistas. Não há um guarda municipal fiscalizando a correta utilização das faixas de asfalto. O pior é quando os corredores invadem as pistas dos ciclistas, sem se darem conta do perigo que causam. Falta, mais uma vez, fiscalização e conscientização de que o espaço é público e deve ser compartilhado. Não é espaço para fazer o que EU desejo.
Com a concentração de pessoas, vem o lixo. E, é claro, como falta intervenção forte da municipalidade nos parques, não há lixeiras suficientes. Como o público é sinônimo de local privado, a população espalha o lixo ao redor das lixeiras ou, pior, deixa garrafas de cerveja espalhadas pelo gramado. Não há preocupação em colaborar. Afinal, garis, lixeiros e empregados domésticos devem catar o lixo espalhado. Não percebem que se não há lata de lixo suficiente, basta juntar o seu lixo e levar até outro local. Simples assim. Nunca soube de alguém ter sido advertido pelos guardas municipais por ter jogado lixo na grama. Falta, portanto, o exercício do poder de polícia neste quesito.
Isso sem falar no som alto. Como o espaço público é privado, a população julga-se no direito de ouvir o que desejar. E, em um gesto extremo de solidariedade às avessas, compartilha seu gosto musical com o resto da população. E nada de fiscalização.
A visita ao Parque Barigui em dias ensolarados é experiência das mais ricas para se entender como funciona a sociedade e qual a sua relação com o espaço público. E, infelizmente, como não há poder de polícia para fiscalizar as anormalidades dessa relação, o espaço público vira espaço privatizado de cada componente da sociedade.
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