Mais um ótimo texto do Dante Mendonça que vou postar aqui.
Por sinal o Dante tem um ótimo livro sobre a Cidade. Curitiba: piores qualidades e melhores defeitos que vale muito a pena.
As cidades e as mulheres
O arquiteto Jaime Lerner tem no seu repertório uma divertida analogia entre as cidades e as mulheres.Se revelando irmão de Dalton Trevisan por parte de cidade, Jaime Lerner assim descreve aquela que lhe deu a luz e o brilho: Curitiba é uma madame de cinta-liga na coxa, com belo naco de carne à mostra.
Se a cidade é fêmea, de que forma podemos imaginar as cidades do Paraná de belos nomes?
Marialva é professora primária. Solteira, recatada e sempre com vestidos modelados da revista Manequim, é a mestra dedicada que ilumina os caminhos das pedras rumo ao futuro na capital. Depois da novela, Marialva chora pelo salário de miséria.
Maringá é cantora do rádio. Morena fogosa, com uma fivela de “strass” prendendo os cabelos, perfume de gardênia, de vestido encarnado com um rasgo na coxa eu garrei a imaginar: Maringá, Maringá...
Corbélia é da mulher do prefeito e presidente da Liga das Senhoras. São famosos os bolinhos de arroz de Dona Corbélia. Ah, mas precisa ver o retrato no dia de seu casamento, com uma “corbeille” de rosas amarelas realçando a cinturinha pilão da donzela em flor.
Anahy e filha de Corbélia. Muito parecida com a mãe, nas férias em casa usa saia e casaquinho, sapatos fechados com meias brancas, travessa nos cabelos, xale e, ao pescoço, um singelo brilhante. Quando volta para universidade, em Curitiba... quem te viu, quem te vê, Anahy!
Antonina é dona de restaurante defronte ao trapiche. Com dedos mágicos no tempero, serve o melhor camarão ensopado do litoral, os mais frescos e espessos filés de robalo, sendo a receita de seus bolinhos de peixe um presente de Nossa Senhora
do Pilar. Generosa, recebe pintores e demais artistas com cardápio sem preço, de apreço. Dona Antonina, mesmo aposentada pelo INSS, ainda hoje trabalha para ajudar a sustentar os filhos e genros desempregados do Porto.
Londrina mantém a pose da rainha, mesmo com os pés vermelhos. Em janeiro de 1952, depois de um bem remunerado circuito pelo Paraná, o cronista Rubem Braga viu assim essa mulher: De dia, “não se julga obrigada a engraxar as botas avermelhadas de poeira nem a pentear demasiado os cabelos”. De noite, “vai ao jantar de homenagem, bem vestida, quase toda de preto, com colar de pérolas”. Hoje, a bota avermelhada é italiana, o vestido preto é Versace, comprados em São Paulo, é claro, porque de Curitiba ela quer a devida distância. Bem, a crise dos últimos anos levou o colar de pérolas, foram-se os anéis, ficaram os dedos.
Ventania madruga, leva e traz as crianças ao colégio, administra a fazenda, à tarde visita o gerente do banco, à noite o tufão vai ao churrasco e desculpa-se pelo cabelo: “Cheguei de moto!”
Frau Rolândia é a Vera Fischer com botas.
Contenda afirma com orgulho: “Semo polaca e não semo fraca!” Quando o Stacho vai ao atravessador receber o dinheiro “das batatinha”, acompanha o marido no cabresto. Todo cuidado é pouco: na volta o polaco pode deixar o lucro nos armazéns de beira de estrada.
Maria Helena és tu, a minha inspiração... cantam os vizinhos de Cruzeiro do Oeste, Xambrê e Umuarama. O belo nome foi escolhido pelos colonizadores Moacir e Mário de Aguiar Abreu, uma homenagem à filha deste último.
Pérola é cortejada pelos guapos de Diamante D’Oeste e Diamante do Sul. Mas ainda vai acabar casando com um mineirinho de Diamantina.
Sulina é filha dos pampas. Com um irmão padre, outro jogador de futebol, sua vocação é o lar. No CTG, a prenda com uma flor no lado esquerdo dos cabelos trançados segura levemente o vestido para que não pisem nele.
Pranchita é a irmã mais velha de Sulina. Bem casada e abastada, seu modelito básico ainda é campeiro, o “tipoy”: um vestido longo de algodão de dois panos costurados entre si com duas aberturas para o braço e uma para o pescoço. Para apertar o “tipoy” sobre a cintura, usa o cordão chamado “chumbé”.
Cascavel é a sogra. E ponto final.
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