Acordar em um sábado cedo, tomar café da manhã e partir para um passeio, no cemitério. Pode parecer mórbido e até bizarro, mas foi exatamente o que fiz no dia 12/11/11.
Não fui sozinho, estava acompanhado de mais 30 pessoas e uma especilista no cemitério. O programa fazia parte da Virada Cultural, evento que durante uma semana deixou Curitiba muito mais legal e proporcionou esse passeio, que há muito tempo eu gostaria de fazer.
No início do passeio é feita uma breve explicação dos motivos que levaram Clarisse, a guia, a se dedicar as pesquias cemiteriais, o motivo pelo qual o cemitério está no local que está, e como o Homem mudou sua relação com a morte ao longo dos anos, até chegarmos aos dias de hoje, em que a morte deve ser mantida à distância (por esse motivo que visitar um cemitério pode soar tão estranho para você).
Depois disso iniciamos o passeio logo pelo túmulo mais popular do cemitério, o túmulo de Maria Bueno, uma jovem assassinada em Curitiba no meio do século XIX. Seu assassinato foi o primeiro crime passional do pinheiral e em pouco tempo começaram a creditar à morta graças recebidas. Aqui temos as primeiras curiosidades do passeio. Quase toda cidade tem seu milagreiro, ou seja, Maria Bueno não é uma exclusividade curitibana, pois cada cidade tem seu ponto de peregrinação dentro de um cemitério e o poder de graça recebida se espalha. Quer dizer, bem próximo ao túmulo de Maria Bueno tem outro túmulo ao qual acreditasse alcançar graças. Fenômeno também comum em outros lugares.
Depois disso continuamos passeando. Passamos por túmulos de personagens importantes da história do Paraná, como o Barão do Serro Azul, Comendador Fontana, Nhô Belarmino e Nhá Gabriela, visitamos túmulos de diferentes estilos, desde muito simples até alguns prá lá de excêntricos, percebemos como a imigração contribui com a cultura da capital, contemplamos obras de arte, ouvimos histórias sobre as pessoas que estavam enterradas ali e, infelizmente, identificamos muitas ações de vandalismo dentro do cemitério. Um passeio emocionante, apesar de pontual, uma vez que para visitar os mais de cinco mil túmulos seriam necessários anos.
O trabalho de pesquisa feito pela Clarisse acabou resultando em um livro. Durante os oito anos em que pesquisa o cemitério buscou contato com as famílias para decifrar as histórias dos túmulos e um pouco mais sobre a vida das pessoas que foram enterradas ali. Esse conteúdo riquíssimo será matéria prima de outra publicação prevista para o próximo ano. Para saber um pouco mais sobre o livro já publicado, "Um olhar... A arte no silêncio", leia o post feito em outro blog, clicando aqui ou acesse o site do livro, clicando aqui.
Para quem ficou interessado pelo passeio tenho uma má notícia. Perguntei se a guia não gostaria de tornar a visita em um produto turístico. Vontade não falta, mas infelizmente não existe essa possibilidade. A cultura tupiniquin do lucro ser algo pecaminoso engessa a lei e inviabiliza que alguém lucre com algo público. É melhor deixar a história de um dos principais museus da capital largada, literalmente, aos vermes, que deixar um particular dividir as riquezas históricas conosco. Por puro medo que ela lucre. Essa não é uma posição da prefeitura, portanto não é uma crítica ao poder municipal, é apenas um desabafo contra a mentalidade brasileira.
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