Esse post é uma homenagem a todos aqueles que não conhecem sua própria história. Estejam eles em Caxias do Sul, Francisco Beltrão ou nos EUA.
O Paraná inteiro sabia que Abilon Souza Naves seria o governador do estado em 1960. Mas sentado em uma mesa na Sociedade Morgenau, no dia 12 de dezembro de 1959, há exatos 50 anos, o coração do senador não aguentou. O ataque fulminante mudou os rumos da política paranaense e nacional. Não há quem duvide que muita coisa poderia ter sido diferente. Afinal, quem não gostaria de ver na liderança de um estado um político influente que, acredite quem quiser, foi tão honesto a ponto de morrer pobre?
Souza Naves era amigo muito próximo de Jânio Quadros. Foi ele quem o apoiou, em 1958, para ser candidato a deputado federal pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) do Paraná. Uma sacada política inigualável, afinal Quadros ficaria dois anos sem candidatura. Depois de concluir o mandato no governo de São Paulo, seriam 24 meses no limbo que poderiam ser decisivos nas eleições à Presidência. Quadros, que viveu sua juventude em Curitiba e estudou no Internato Paranaense, foi eleito deputado com o apoio de Souza Naves. “Isso facilitou a chegada dele à Presidência, em 1960”, explica o ex-deputado federal Leo de Almeida Neves, membro da Academia Paranaense de Letras que foi amigo próximo do senador.
Síntese
A relação política e de amizade entre Quadros e Souza Naves, diz Neves, mudaria o futuro do Brasil. Ele acredita que se o ex-senador estivesse vivo durante a Presidência de Quadros, seria a personalidade mais importante a aconselhar o então presidente a não renunciar. “O senador era uma das poucas pessoas no Brasil que Quadros ouvia. Ele poderia ter ficado no cargo porque certamente Souza Naves daria a ele o apoio que precisava. Então, teriamos evitado que João Goulart assumisse o posto e, como consequência, evitaríamos o golpe militar e a cassação de políticos que pertenciam ao partido do PTB”, afirma Neves.
Já na política do Paraná, conforme explica o jornalista Vanderlei Rebelo, se Souza Naves tivesse sobrevivido, poderia ter dado um rumo diferente às candidaturas seguintes no estado. “Ney Braga, com a morte do senador, conseguiu ser eleito para governador (antes sabia que poderia ser derrotado facilmente). Usou do prestígio que obteve no governo para formar, pelo menos, outros três governadores futuros. Apoiou José Richa, Paulo Pimentel e Jaime Canet Júnior”, diz Rebelo, autor do livro que retrata a biografia de Ney Braga. Os três homens foram governadores do Paraná nos anos subsequentes e mantêm, até hoje, algum tipo de vínculo com a política.
Neves acredita que Souza Naves, no governo do estado, conduziria as sucessões futuras para seus correligionários : “Eu seria um indicado. Acabei assumindo, com a morte do senador, o lugar dele na vice-presidência do PTB nacional. Os outros seriam Amaury de Oliveira e Silva, Antônio Anibeli (que chegou a ser governador interino com a renúncia de Bento Munhoz da Rocha) e Nelson Maculan”, diz.
A boa relação com os agricultores, principalmente cafeicultores, foi o que levou Souza Naves a ter um reconhecimento nacional. Seu trabalho de maior repercussão, segundo Neves, foi como diretor da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial (Creai) do Banco do Brasil. “Ele financiou a juros baixos e prazos longos a recuperação das lavouras atingidas por duas geadas consecutivas, em 1953 e 1955, que tinham arrasado a cafeicultura paranaense. Disseminou empréstimos para a diversificação da cultura agrícola e concedeu financiamentos à construção de moinhos de trigo”, afirma Neves.
Ele era mineiro de Uberaba e chegou a Curitiba porque foi transferido de cidade quando ainda exercia um cargo no Instituto de Aposentaria e Pensões dos Comerciários (IAPC). Casou-se com uma paulistana, teve duas filhas e uma vida simples. Quem conheceu Souza Naves afirma que ele abriu mão de possíveis cargos com luxos em defesa dos necessitados: lutou com os trabalhadores para conseguir aumentar o salário mínimo.
Amigo de Souza Naves, o jornalista David Nasser escreveu sobre a tristeza dele às vésperas do Natal de 1959. Não pôde comprar uma boneca de olhos azuis que falava meia dúzia de palavras para a filha Beatriz. Na verdade, teria dinheiro para comprar uma, mas como tinha duas filhas achou que seria injusto com uma delas (leia mais na coluna Uma boneca para Beatriz, de David Nasser, em http://www.memoriaviva.com.br/ocruzeiro/).
Doente do coração, Souza Naves já havia sofrido um infarto antes. Morreu aos 54 anos, deixando à família uma casa adquirida em um financiamento e, à população, um legado: político que é bom de verdade não enriquece às custas do povo.
Texto retirado do portal da RPC.
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2 comentários:
E cadê o post sobre Agamenon Magalhães?
O blog tá muito sério.
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